Luana Oliveira, Head de Indiretos e Terceirização da Flora, é nossa segunda especialista convidada para o Especial ME Mulheres no Supply Chain. Ela contou que é paulista, filha de migrantes nordestinos, fascinada por conhecer novos países e novas culturas. Luana começou cedo no mundo dos negócios e, em 2023, completa 20 anos de carreira, com vivência principalmente no varejo e na indústria.
Conheça a trajetória da Luana Oliveira, Head de Indiretos e Terceirização da Flora
Luana Oliveira é formada em Administração de Empresas pela Universidade Mackenzie e pós-graduada em Varejo e Mercado de Consumo pela FIA. Esteve à frente da área de Suprimentos do Grupo Pão de Açúcar e do Grupo Petrópolis. Hoje, faz parte do time de líderes da Flora, empresa referência no setor de higiene e limpeza com marcas admiradas pelos brasileiros.
Confira as perguntas e respostas da entrevista:
1. Como surgiu o seu interesse em trabalhar no setor de Compras e Supply Chain? Como foi a sua trajetória profissional até o cargo que ocupa hoje?
Eu ingressei na área por meio de uma oportunidade de estágio. Eu tinha vindo de uma vivência “do outro lado da mesa”, na parte Comercial. Experimentei outras áreas, como Planejamento e Qualidade, mas me encontrei quando recebi a oportunidade com compras. Comecei com a área de Marketing, onde compreendi melhor como gerar valor ao negócio e, na sequência, assumi a área de MRO. O cenário era de fusões e aquisições e velocidade, e a busca por parcerias foram essenciais. Depois disso, veio a parte de Serviços e Tecnologia, que agregaram desafios e muito conhecimento. Hoje, como Head de Indiretos e Terceirização da Flora, além de vivenciar tudo que trago na minha bagagem, contribuo com a área de Produtos e Marcas, o que torna essa jornada ainda mais interessante.
2. Ao longo da sua trajetória, você se deparou com situações em que teve que lidar com preconceitos por ser uma mulher em um setor majoritariamente masculino? Como você age para superar essas barreiras de gênero no seu contexto atual?
Sem dúvidas. Eu vejo o ambiente corporativo em evolução, mas ainda falta um caminho considerável para se tornar um espaço com equidade de gênero. É importante chamar atenção para esse estereótipo de gênero que pressupõe uma fragilidade feminina e, muitas vezes, se reflete em dúvidas sobre a nossa capacidade. Atribuir à mulher a ata da reunião em reuniões mistas, comentários e piadas machistas e demonstrar espanto ao ver mulheres na condução de temas estratégicos são algumas das formas mais sutis desse tipo de preconceito. Isso também se apresenta de maneira mais evidente em casos de assédio moral, como retirar autonomia das mulheres sem justificativa, calar suas opiniões, ignorar sua presença ou liderança e em casos de assédio sexual com situações igualmente graves. Para superar essas barreiras, eu falo e exponho o tema por que acredito que a conscientização pode promover essa evolução. Além disso, acredito que agir é importante. Em todas as empresas que trabalhei, sempre me posicionei e não aceitei ser submetida a situações como essas, o que ajuda a romper essas barreiras, assim como, encorajar e apoiar as mulheres que estão à minha volta a fazer o mesmo.
3. Quais características de uma liderança feminina você acredita que podem trazer impactos positivos para o setor de Supply Chain?
Independente da área, acredito que traços da liderança feminina, como empatia e seu estilo inclusivo aplicados na forma como orientam, engajam, incentivam, desafiam e reconhecem seus times, impulsiona de maneira diferenciada as equipes. Para Supply, eu acrescentaria que ser multitarefas e organizada, dado o contexto plural do setor, criativa e com habilidade de relacionamento, dada a diversidade de interface, e, por fim, a disposição na tomada de riscos e assertividade, dada representatividade da área no negócio, se traduzem, certamente, em resultados e impactos positivos.
4. Você possui alguma referência de liderança feminina na qual você se espelhou ao longo da sua carreira? Você se vê como uma referência para outras profissionais femininas o Supply Chain?
Tenho como referência a Luiza Helena Trajano e admiro também a jornada da Cristina Junqueira. De maneira mais ampla e excedendo as fronteiras, eu respeito e me espelho na história de mulheres como Michelle Obama, Oprah Winfrey, Angela Merkel, entre tantas outras igualmente fortes, pioneiras, disruptivas e maravilhosas que nos encorajam a enxergar o nosso valor, a nossa força e a nossa capacidade de realizar coisas excepcionais. Mas há uma lista imensa de outras mulheres igualmente incríveis.
Eu acho importante apontar também algumas que não são conhecidas do público em geral, mas que fizeram muita diferença na minha trajetória. Eu felizmente fui – e sou – rodeada de grandes mulheres nas organizações pelas quais passei, líderes e colaboradoras que me ensinaram e me ensinam muito a cada dia. Além disso, tenho dentro de casa tenho dois grandes exemplos de mulheres, a minha mãe e a minha irmã. Minha mãe é, pra mim, a mulher mais extraordinária que eu conheço e, sem dúvida, a que mais admiro. Ela me ensinou muito sobre resiliência, trabalho, ética, perseverança e foi minha maior incentivadora ao longo da jornada. A minha irmã, igualmente formidável, sempre foi minha grande companheira e conselheira nos desafios da vida e da carreira. Eu digo isso, porque acho muito importante que, nós, mulheres, saibamos olhar em volta, reconhecer e absorver essa força que nos rodeia. Identificar e valorizar essas grandes heroínas “anônimas” que nos acompanham faz toda a diferença.
Eu procuro sempre adotar uma postura que valorize as mulheres que estão perto de mim, encorajando-as a estudar, a ambicionar a alcançar seus sonhos e que não permitam que ninguém defina onde elas devem estar.
5. As práticas de ESG (Ambiental, Social e Governança) tem cada vez mais tomado o centro das discussões estratégicas nas empresas. Um dos pontos centrais nesse debate, é a necessidade de atrair mais diversidade para todos os níveis da organização. Na sua opinião, quais os benefícios em construir times diversos e quais ações podem ser adotadas para que ela seja cultivada?
Para mim, time diverso é sinônimo de time mais completo. Quanto mais plural forem as experiências, vivências e perspectivas mais criativo e inovador será o ambiente e isso certamente se traduzirá em melhores entregas e resultados. A forma de estimular essa diversidade é dar oportunidade para que o ambiente se torne mais diverso e conscientizar a liderança sob seu papel nesse processo.
6. Uma pesquisa realizada pela Consultoria Robert Half indica que 76% dos profissionais de Supply Chain acreditam que o futuro do setor está relacionando com o aumento do acesso à novas tecnologias e áreas de compras mais interligadas, tornando toda a cadeia mais eficiente. Neste cenário, quais práticas e novas tecnologias você tem adotado em sua rotina, para se adaptar a este futuro?
Hoje temos acesso a uma infinidade de tecnologias que nos ajudam na busca, pesquisa e consolidação de bases e informações. Sem dúvida o caminho é se valer dessas tecnologias para otimizar nosso dia a dia, procurar automatizar rotinas e processos (RPA está aí e já é uma realidade) para liberar os times para uma atuação mais estratégica e de relacionamento. Reduzir atividades operacionais e proporcionar um ambiente com mais propósito, aprendizado e criação é uma forma de reter talentos e, consequentemente, trazer mais eficiência e competitividade para a cadeia.
7. Cenários Incertos e instabilidade no volume de compras foram alguns dos principais desafios trazidos pela pandemia. O setor de Supply Chain teve que se adaptar aos novos desafios advindos deste cenário global, e com isso, os profissionais de compras tiveram que desenvolver novas habilidades para se manterem relevantes neste mercado. Na sua opinião, quais são as habilidades essenciais para o profissional de compras do futuro?
Entendimento da economia global, visão holística da cadeia e atuação estratégica, assim como uso da tecnologia, dados e indicadores como aliado no estudo de tendências e planejamento. Além disso, relacionamento e escuta ativa com fornecedores e clientes, ética e responsabilidade social e ambiental e se posicionar como agente de geração de valor para o negócio.
8. Uma pesquisa da Women in Supply Chain, realizada pela Gartner, constatou que em 2022 as mulheres representaram 19% dos cargos de C Level em organizações da cadeira de suprimento. Embora isso represente um avanço rumo à equidade de gênero no ambiente de trabalho, sabemos que muitos setores, inclusive o de Supply Chain, ainda demandam mudanças estruturais para que esta equidade seja possível. Quais mudanças você acredita que o setor de Supply Chain precisa passar, para conquistarmos mais diversidade e equidade?
O primeiro passo é reconhecer essa necessidade e proporcionar oportunidades para que as mulheres possam ocupar esses espaços. Eu percebo muitas mulheres ocupando cargos de gestão de primeiro nível, como coordenação e supervisão e uma movimentação nos cargos gerenciais, precisamos alavancar essa parcela e acelerar para que elas avancem e passem a ocupar a próxima faixa da pirâmide.
9. Por fim, qual conselho você daria para outras profissionais que desejam construir uma carreira de longo prazo no setor de Supply Chain?
A jornada é incrível, cheia de oportunidades e muito satisfatória. Procure estudar e se preparar bastante, atualizar-se sempre será fundamental e não tenha receio de arriscar. Não é um ambiente exclusivamente masculino, aqui a mulher tem vez e tem voz e quanto mais espaço a gente ocupar, mais força e mais oportunidades nós teremos. Lugar de mulher é onde ela quiser!
Até à próxima! 😉